Não é possível colher os frutos sem antes semear a terra

Caros amigos,

Escolhi esse cantinho nosso para transmitir algumas impressões íntimas relativas ao esporte que praticamos. Hoje, não tenho qualquer dúvida de que precisamos cada vez mais estarmos juntos. A inauguração do novo clube de São Paulo, o reinício do jogo no Country, a festa de aniversário no Bridge Clube do Rio, as aulas ministradas pela Marie no Rio Grande do Sul, por si só, demonstram que a partida foi dada para o abraço apertado e coletivo do Bridge no Brasil. A pandemia se despede com vagar, mas o medo da sua face de terror já não nos amedronta como antes e nem impede o encontro que aconchega e alegra a alma que andava murcha com o distanciamento dos amigos. Sei que não será fácil desentocar muitos de vocês de suas casas. É certo. Todos nós nós habituamos a desfrutar da zona de conforto do lar. Por que pegar o carro, o Uber, o ônibus, ou o carona para fazer a mesma coisa que faríamos em casa sem a preocupação do deslocamento e do esforço para vestir algo apropriado?

Uma cotovia me contou que o Luís Antônio em casa joga apenas de chinelo e chapéu Panamá, enquanto a Graça usa o teclado de avental e pano na cabeça cozinhando uma fritada de camarão lixo. Entretanto, apesar desses luxos domésticos, a confraternização só acontece quando estamos juntos e conversando cara a cara. São nesses momentos que amizades são criadas para sempre, igualmente breves hostilidades, boas gargalhadas, algumas fofocas, o companheirismo saudável , tudo apenas possível pela cumplicidade do Bridge praticado. Não é só. Também acontecem os namoros, os romances, os casamentos, todos formados pelo convívio no ambiente bridgistico. Os exemplos são inúmeros. Lembro alguns: Robertinho e Regininha, Tubiska e Amílcar, Vilma e Márcio, Leda e Gabriel, João Paulo e Simone, Xaninho e Laurinha, Pedro e Noemia, Baronesa e Junka, Márcia e Leão, Ana e Cristiano, Juliana e Beto, Lis e Fred, Marie e o eterno Renatinho, e por aí vai. Não mencionarei os namoricos porque me falta o necessário fôlego de memória e não desejo constranger os protagonistas de amores fugazes. Não importa, a nossa comunidade só sobrevive à custa da nossa sempre presente relação pessoal. Entretanto, para dar seguimento a esse estado de plena camaradagem é necessário mais do que jogar presencialmente. Nós precisamos expandir o nosso mundinho, hoje tão acanhado. Não é possível colher os frutos sem antes semear a terra. No Rio, quando um dos sócios sugeriu a associação do BCRJ com outros clubes, muitos rejeitaram a ideia porque não desejavam ser sócios de outras agremiações. Ocorre que essa é uma maneira legítima de atrair novos adeptos para o nosso esporte. Nesse momento de míngua de jogadores temos que pensar no Bridge, e não em nós mesmos e na nossa conveniência. É preciso lutar pelo Bridge e admitir que só a renovação pode salvá-lo.

Eis aí a razão principal que me permitiu compartilhar com vocês essa minha reflexão num quase desabafo. Portanto, faço aqui um apelo a todos: doem-se um pouco para o Bridge, até, talvez, com algum sacrifício. O primeiro passo é o simples reencontro.

Abraços