Muitos de vocês ainda não se deram conta de que o Torneio Minas/Bahia e amigos transcorre acima das melhores expectativas, não apenas no aspecto lúdico como também no plano desportivo.
Talvez, por isso, só oito equipes foram se divertir em Salvador. Lá, tudo é bom.
Na verdade, nem tudo, sinto falta de uma baiana servindo acarajé na praia.
No torneio, a surpresa não deu as caras. Ganhou a equipe de Rafael, Junqueira, Miguelzinho, Aloi e Tio Paulo. Minas e Damião não fizeram feio, a quadra comandada pelo Dilico chegou em segundo lugar superando a minha na fita de chegada. Se o Rio não subiu ao pódio, São Paulo dele ficou longe por não comparecer. Aliás, por aonde anda o espírito aventureiro dos antigos pioneiros bandeirantes? Seja como for, Andréa e Junqueira, as exceções, representaram com brio e sorriso largo (Andréa, naturalmente) a magnífica terra de Mário e Oswald de Andrade.
Nas duplas, ganharam Rafael/Junqueira, numa linha, e Miro/Waldemar, na outra.
A entrega de prêmios se viu, merecidamente, mais iluminada pela homenagem prestada a Miguel Villas-Boas. Pouco conheci o pai de Miguelzinho, mas, pelas narrativas dos anfitriões, notei tratar-se de pessoa de trato complicado e coração grande, semelhante ao pai do Aleco (Alexandre Misk). Duas passagens relatadas pelo orador oficial do evento, um emocionado Tio Paulo, conduziram-me a essa percepção, posto que superficial. Em determinada ocasião, ainda no princípio de sua vida bridgística, em parceria com Miguel, pensou muito numa jogada e terminou cometendo um erro primário. Perguntou-lhe o homenageado: “- Por que pensou tanto tempo para fazer tamanha asneira? ” Tio Paulo informou que continuava a cometer paspalhices, mas desde então sem muita delonga. De outra feita, numa viagem longa e cansativa para um torneio no sul do país (ou terá sido no Uruguai?), e parada obrigatória na estrada, ele, Tio Paulo, e outro companheiro, depois de um banho de suplício no banheiro imundo do posto de gasolina, foram recebidos por Miguel que os aguardava no bar tomando serenamente uma cervejinha fazia tempo: “- Por que demoraram tanto? ” Os rapazes contaram sua desventura naquele banheiro de pavor e Miguel retrucou: -“Por acaso vocês conhecem mulheres caminhoneiras? Na estrada, as criaturas com alguma lucidez só usam o banheiro das mulheres. Vocês têm muito que aprender comigo”. E assim foi, Tio Paulo, e tantos outros, muito aprenderam com esse grande campeão de Bridge baiano.
Sua viúva, Lúcia Villas-Boas, recebeu o troféu do sexto jogador ausente, mas inesquecível, também vitorioso, da equipe campeã do torneio Minas/Bahia e amigos de 2016, nesse dia memorável em Salvador. Parabéns, Miguel Villas-Boas.
O Bridge não espera. Poucos dias depois do Torneio na Bahia, metade da equipe que lá atuara resolveu voar para São Paulo e disputar o sênior. Juntaram-se a nós, Graça, Cysneiros e eu, Orlando, Marina Amaral e Gustavinho. Poucos dias antes do torneio, Orlando desligou-se dessa equipe para compor a de Amilcar, João de Deus e Guilherme, a qual se vira, repentinamente, desfalcada de um jogador fujão. Essas trocas são habitualmente postas em prática para que os jogadores não fiquem órfãos do Bridge por falta de parceiros.
Enquanto isso, Gabriel, sorrateiramente, armava um esquadrão; ele, Aranha, Pedro Paulo e Pedro Branco. O motivo era simples, derrotado no Livre, não pretendia deixar de ir para a Polônia.
Parecia que teríamos apenas três equipes, mas eis que surge uma quadra paulista, no finalzinho do último tempo do prazo da inscrição, formada apenas por mulheres: Lia Tajtelbaum, Maria Cecília Malta, Vera Gama, Leda Machado e Rosa Gorescu.
Esse torneio para mim teve um caráter emblemático; em turno e returno, contra as três equipes, em seis sessões de doze bolsas, a quadra da qual fazia parte só conheceu a derrota.
Antes do início da última sessão, já na disputa do segundo lugar, a equipe do Amilcar se achava 15 imps na frente da Lia Tajtelbaum, e jogaria contra Gabriel. Bastava perder de pouco ou, de outro lado, esperar que a minha equipe, no máximo, também perdesse de pouco da Lia. A classificação parecia sorrir para a quadra do Amilcar. Debalde, esta não sabia do que a minha equipe era capaz. Gabriel venceu bem, e a Lia nos esmagou com um escore de 20 a zero. Na nossa melhor bolsa, 5 paus dobrados feitos, perdi 11 imps; Graça do outro lado caiu 1.100 em cinco copas dobradas.
Voltamos para casa escorraçados e humilhados. Marina Amaral retirou o convite que me fizera para jantar.
Na final, a brava equipe da Lia foi derrotada por Gabriel, mas venceu duas sessões e empatou uma terceira. Nada mal, para um confronto com campeões mundiais entulhados de títulos e currículo bridgístico.
Merece parabéns a equipe de Lia Tajtelbaum. Por sua vez, o time de Gabriel irá para a Polônia. Acredito que nos fará orgulhosos em Wroclaw.
A despeito da derrota acachapante, fui alegremente surpreendido no clube de São Paulo por uma visão inesperada e encantadora. Na noite de segunda-feira, repito, segunda-feira, contei dezoito mesas, setenta e dois jogadores de Bridge em ação, reunidos num despretensioso torneio. Maravilha.
Também, nesta mesma noite, celebrei um acordo de colaboração efetiva da Fernanda com a Federação. Fernanda estava afastada por motivos tolos, sem nenhuma importância, mas agora volta a nos oferecer o seu precioso trabalho, na companhia da Juliana. Elas, vez por outra, podem divergir aqui ou acolá, mas sabem conduzir os eventos do Bridge com raro profissionalismo. Mais ainda. Superam essas eventuais discordâncias pelo fato de ambas possuírem em comum, não apenas a competência, mas um genuíno afeto pelo Bridge e um especial carinho por esta presidência.
Sendo assim, as nossas duas guerreiras promoverão juntas o Brasileiro deste ano e os eventos regulares da Federação para o ano que vem.
Aliás, o Brasileiro deste ano promete. Rafael pretende suplantar o sucesso do ano passado, com maior número de equipes, mais diversão, mais acarajé, mais música, mais Bahia.
Por fim, desejo aqui antecipar um projeto para 2018. A Federação irá propor, daqui a duas semanas, em Medelin, a realização do aberto sul americano de 2018, no Hotel Tivoli, na Praia do Forte, Salvador, Bahia. Rafael me levou para conhecer o local, juntamente com Juliana e Jaqueline. Antecipo aqui o meu testemunho: é um dos lugares mais bonitos que já vi, e não me lembro de ter participado de sul americano algum em local tão propício e agradável para um torneio de Bridge.
Essa nossa proposta será defendida na reunião dos presidentes sul americanos pelo Amilcar (Diretor) e pelo João de Deus Silva Neto (Conselheiro). Temos grande chance de levar. Marcelo Caracci, presidente da FSA, já manifestou a sua boa receptividade para o projeto em e-mail a mim endereçado, recentemente. Infelizmente, não poderei estar presente em Medelin. Por isso, a Federação se fará representar pelos dois cartolas mencionados, enquanto o Beto (acho que também o Paulinho), participarão do evento organizado pela WBF para questões de natureza técnica e disciplinar.
Entretanto, lembrou-me o Amilcar que o evento acontecerá em 2018, já em outra administração da Federação e, portanto, os acertos que se fizerem antes, poderão, em tese, ser inibidos depois pela nova diretoria.
Diante disso, sempre dando razão às francas ponderações do nosso Diretor Técnico, percebo que a solução possível seria a antecipação do final do mandato da atual administração para este ano. Isto é, realizaríamos não apenas a Assembleia Geral Ordinária, mas também uma Extraordinária, em novembro, na Bahia, esta última no intuito de eleger uma nova administração que conduza os preparativos para o sul americano de 2018.
Abraço. Assis.
Fotos do Bahia x Minas